quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Força G

Porquinhos da Índia são os astros da aventura
Foto: Estúdios Disney

Produzido pelos Estúdios Disney, o filme dirigido por Hoyt Yeatman (G_Force, EUA, 2009) mistura cenas reais com animação. Traz como destaque quatro simpáticos porquinhos da Índia, animal que está em alta no cinema feita para a família, já que havia um deles em Um Faz de Conta que Acontece. Nas salas equipadas, foi exibido também em terceira dimensão.
Outro destaque é que se trata da primeira produção de Jerry Bruckheimer, o idealizador de franquias de sucesso como Piratas do Caribe, destinada ao público infantil. E esse vira um dos senões a ser apontado, já que o ritmo do filme acaba se tornando vertiginoso demais, talvez mais indicado a adolescentes, no estilo de adrenalina que o produtor gosta.
No mais, Força G é o que se pode chamar de fofinho. Os bichinhos são agentes secretos que tratam de agir contra um maluco que tenta dominar o mundo. Outro diferencial são as vozes famosas na versão legendada, de Nicolas Cage como Speekles, Sam Rockwell para Darwin e a espanhola Penélope Cruz para a latina Juarez. Bill Nighy, Will Arnett e Zach Galifianakis (o comediante sensação de Se Beber Não Case) têm destaque nas cenas reais. (Ronaldo Victoria)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Stella

Lóra Barbara vive a menina desajustada
Foto: Google Image

Histórias sobre crianças que vivem soltas pelo mundo e pela vida quase sempre rendem bons filmes. E foi o que aconteceu com este drama francês, dirigido por uma mulher, Sylvie Verheyde, em que ela conta episódios de sua própria trajetória. Stella Vlaminck, a menina interpretada com graça e talento por Lora Bárbara, está incluída em uma ambiente que nada tem a ver com infância.
Seus pais, Serge (Johan Lébereau) e Roselyne (Carole Rocher), são donos de um bar frequëntado por boêmios da classe média baixa. Os dois são desajustados e se entregam à bebedeira e à falta de oportunidade. Chama atenção a cena em que Roselyne, durante uma reunião na escola da filha, não consegue entender a importância da educação, já que ela mesma diz, com orgulho besta, que nunca precisou das letras para se defender na vida.
Stella vive num quartinho onde o som da algazarra vaza e não é à toa que fica incapacitada de ter um bom rendimento. Fica amiga de um dos boêmios, Alain-Bernard (Guillaume Depardieu, filho de Gerard e recentemente falecido), mas sua vida muda mesmo quando aparece Gladys (Melissa Rodrigues), filha de judeus argentinos que mostra um novo sentido. (Ronaldo Victoria)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Usina de Sonhos

Jon Foster interpreta rapaz sem iniciativa
Foto: Google Image

O título talvez dê a entender que a história se passe em Hollywood, mas na verdade tudo acontece na cinzenta cidade de Pittsburgh, onde as usinas siderúrgicas são enormes e reais. A maior qualidade do drama romântico, baseado num livro americano de sucesso escrito por Michael Chabon, é ser original e ir além dos clichês do gênero.
O herói é Art (Jon Foster), rapaz recém-formado mas que não tem muita iniciativa na vida. Feito um Zeca Pagodinho, ele é daqueles que deixa a vida o levar. Filho de um chefão do crime organizado, Joe (Nick Nolte), que controla sua vida com mão de ferro, ele prefere trabalhar num emprego fácil. Vira balconista de uma livraria cuja gerente, a histérica Phlox (Mena Suvari), o trata como objeto sexual.
Um dia ele conhece o sedutor Cleveland (Peter Sasgaard), trambiqueiro que tem uma namorada descolada, Jane (a bela Sienna Miller). Entre eles nasce um triângulo amoroso, já que Art se imagina louco por Jane. Porém, há a segunda alternativa: ele de fato não estaria apaixonado por Cleveland? Hipótese que o roteiro não deixa de abordar, e com muita coragem. A ousadia faz com que se torne cuma boa indicação. (Ronaldo Victoria)

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Imagine Só

Eddie Murphy e Olivia Shahidi: que pai é esse?
Foto: AllMovie Photo

Eddie Murphy já teve alguma relevância artística lá pelos anos 1980, quando foi saudado como uma novidade da comédia americana por conta de filmes como Um Tira da Pesada. De lá pra cá, ele se conformou em fazer o mesmo de sempre: comedinhas fáceis e digestivas, dentro do estilo entretenimento familiar. A não ser que se considere assim o mau gosto de filmes como Um Professor Aloprado.
Murphy chegou a ser indicado ao Oscar há três anos ao interpretar um cantor inspirado em James Brown no chatíssimo Showgirls. Perdeu para Alan Arkin (o avô viciado de Pequena Miss Sunshine) e contam que deu um piti nos bastidores. Agora ele volta de novo no estilo familiar. Agora vive o executivo Evan, sempre pressionado para conseguir lucros.
Até que descobre que a filha, Olivia (Yara Shahidi), tem amigas imaginárias que podem dar conselhos financeiros. Duas perguntas que ficam. Primeira: isso é engraçado? Segunda e mais importante: um cara que coloca a filha para resolver seus problemas profissionais merece crédito? Perda total de tempo, a não ser a cena em que a menina canta All You Need is Love, dos Beatles. (Ronaldo Victoria)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Falando Grego

Nia Vardalos e Alexis Georgoulis: romance entre ruínas
Foto: AllMovie Photo
Engraçado como às vezes o sucesso demora a chegar para um artista e, quando chega, o ator fica prisioneiro dele. Parece que foi isso que aconteceu com Nia Vardalos. Ela demorou a acertar, até que em 2002 deu sorte com Casamento Grego, comédia que foi fenômeno de público e onde lembrou suas raízes familiares.
Depois disso Nia tentou outros caminhos. Connie e Carla, em que dividia o estrelato com Toni Collette, foi lamentável e desperdiçou a dupla. Em Eu Odeio o Dia dos Namorados, ela chamou de novo John Corbett, seu galã em Casamento Grego, mas de novo não funcionou. Então, só restou apelar à Grécia mais uma vez.
Agora ela vive Geórgia, americana que volta a Atenas e onde serve de guia para turistas entediados. O roteiro do filme dirigido por Donald Petrie tenta mostrar que os estereótipos sobre países (americanos são fúteis, australianos beberrões, espanhóis briguentos) têm mais a ver do que a gente imagina. Geórgia enfrenta um osso duro de roer com o ranzina Irv (Richard Dreyfuss) e demora a perceber que o motorista, Popi (Alexis Georgoulis), é sua chance de desencalhar, tanto na estrada quanto na vida. Agradável e descartável. (Ronaldo Victoria)

sábado, 26 de dezembro de 2009

À Deriva

Vincent Cassell e Laura Neiva: família sem rumo
Foto: Google Image
Depois de dois filmes escuros (Nina era uma pretensiosa adaptação de Crime e Castigo para o submundo paulistano e O Cheiro do Ralo transbordava falta de humanidade), Heitor Dhalia investe em outro estilo. À Deriva é solar, até porque se passa totalmente numa cidade litorânea (Búzios muito bem fotografada) e fala de família e descoberta da vida.
A heroína é Filipa, vivida pela descoberta do cineasta Laura Neiva, de 15 anos como sua personagem. Ela passa as férias com os pais, o francês Mathias (Vincent Cassel, que fala bem português) e Clarice (Débora Bloch). Ela é a mais velha dos três filhos e enquanto descobre os jogos pré-sexualidade (faz um pobre garoto de gato-e-sapato), assiste a degradação do casamento dos pais.
Enquanto a mãe bebe sem freios, o pai tem uma amante, Angela (Camila Belle). Filipa se angustia, culpa o pai e tenta entender a mãe, o que nunca conseguiu. O filme tem ritmo lento, soa aborrecido no início, mas aos poucos cativa ao mostrar que, como no título, a família atual e seus pequenos dramas andam sem rumo. (Ronaldo Victoria)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Elo Perdido

Will Ferrell entre Danny McBride e Anna Friel: comédia ingênua
Foto: AllMovie Photo
O que se pode dizer da comédia O Elo Perdido é de que se trata de um típico veículo para Will Ferrell. O comediante faz grande sucesso nos Estados Unidos e nem tanto por aqui. O maior problema é que ele faz aquele estilo de bobão de bom coração, o que nem sempre nos agrada, e suas comédias nos parecem, por isso, literalmente bobas. Às vezes ele acerta, quando viveu um ajudante de Papai Noel em Um Duende em Nova York. Em outras, pisa na bola, como quando viveu o marido da personagem de Nicole Kidman em A Feiticeira.
Aqui ele fica bem mais para o erro do que para o acerto. Interpreta Rick Marshall, um cientista que cai em desgraça quando lança uma teoria sobre a evolução do homem contestada por todos. O pior é que perde a paciência durante um talk-show ao vivo e bate no apresentador.
Então parte para outra missão, contando com apoio de Holly (Anna Friel), uma aluna inglesa que é sua fã, e um guia maluco, Will (Danny McBride). Caem num túnel onde se deparam com criaturas estranhas. A graça é escassa e, lembrando o título, a sensação é de tempo perdido. (Ronaldo Victoria)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

A Princesa e o Sapo


Princesa Tiana é garota negra e batalhadora
Foto: AllMovie Photo
Essa nova animação dos Estúdios Disney, dirigida por Ron Clements e John Musker (os mesmos de A Pequena Sereia, Alladin e Hércules), além de não aderir ao 3D, o que é arriscado nos dias de hoje, foi comentada na mídia pelo fato de ter a primeira heroína negra no estilo. Mas esse fato nem é comentado no roteiro, o que no final das contas é ainda melhor, por se tratar de algo natural.
Outra diferença, ou modernização, é que a princesa, Tiana, não é só uma patricinha à espera do príncipe encantado. Nada disso, ela rala muito, tem o sonho de abrir um restaurante em Nova Orleans, sonho que seu pai não conseguiu realizar. Uma noite ela está cuidando do bufê de uma festa para receber de Naveen, um nobre indiano. Acontece que ele é vítima de um feitiço de um homem sinistro.Como sempre ouviu a história do beijo que transforma o sapo num rapaz lindo, faz isso, mas o que acontece? Ela vira sapinha! Vem daí a graça da história, além de personagens coadjuvantes hilários como o jacaré músico e o vagalume banguela. Curiosidade é que quem dubla o príncipe na versão original é um brasileiro, Bruno Campos, que trabalhou em O Quatrilho. (Ronaldo Victoria)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Avatar

Sam Worthington vive soldado em missão especial
Foto: Fox Pictures
É difícil (quase impossível) não se deslumbrar logo nos primeiros minutos com a beleza de Avatar, filme que James Cameron demorou 12 anos para terminar. A favor dele, diga-se que Avatar praticamente salva o cinema. Afinal, depois da revolução em 3D que apresenta, quem irá comprar DVD pirata? Mas resta esperar se ele terá nas bilheterias a resposta à imensa expectativa que gerou.
O problema é que, tirando o aspecto tecnológico, Avatar não foge das convenções e dos clichês dos filmes de aventura. E sua história de amor não deve despertar tanta emoção quanto à de Jack e Rose em Titanic, a obra anterior de Cameron, até agora recordista mundial em ingressos vendidos. A história fala sobre Jake (Sam Worthington), soldado recrutado para uma missão no planeta Pandora.
A originalidade é que, para se infiltrar entre os nativos, ele terá um avatar, ou seja, uma vida paralela. Os habitantes são todos bons selvagens e vivem em comunhão com a natureza, como prova a bela Neytiri (Zoe Saldana), que desperta a atenção de Jake. Já os militares por trás de tudo são tão caricatos quanto os da realidade, com destaque para um coronel paranóico que usa o verbo matar em todo momento. Resumindo: é ótimo, sim, mas será um fenômeno? (Ronaldo Victoria)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Anticristo

Charlotte Gainsbourg: dor, solidão e desespero
Foto: Google Image
Tem tudo para ser uma das experiências cinematográficas mais radicais da sua vida. E não tem meio termo: ou se aceita ou se rejeita. No último Festival de Cannes, o drama de horror dirigido pelo dinamarquês Lars von Trier foi vaiado durante a exibição e ele quase agredido na coletiva de imprensa. Ele é provocador mesmo, para alguns marqueteiro, para outros um sábio por não acreditar na bondade humana.
Segundo ele, a inspiração veio durante uma crise de depressão profunda, paralisante. O roteiro traz apenas dois personagens, um casal conhecido apenas como Ele (Willem Dafoe) e Ela (Charlotte Gainsbourg). As primeiras cenas são lindas, poéticas, mostrando sexo até explícito. Mas o menino do quarto ao lado desaba e morrer, pois a janela foi esquecida aberta.
Vem daí o terror. Se perder um filho é o auge da dor, se sentir culpado por isso acrescenta muito mais à dor. Ele é psicanalista, tenta entender a mulher, mas Ela entra em processo de histeria. Há até uma cena de mutilação genital, com close de uma tesoura cortando o clitóris. Há fogo e comparação com a caça às bruxas. Com isso há mais uma acusação a Von Trier: ele seria misógino? Tente responder. Se tiver coragem... (Ronaldo Victoria)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Pintar ou Fazer Amor

Daniel Auteuil e Sabine Azema: casal aberto a novas experiências
Foto: Google Image
Este drama dirigido por Arnaud e Jean-Marie Larrieu (Peindre ou Faire l’amour, 2005) só poderia ter sido realizado mesmo na França. Tem todas as qualidades e ao mesmo tempo todos os tiques pretensiosos que caracterizam o cinema daquele país. É uma história com altos toques eróticos, em que as coisas acabam acontecendo de forma natural, sem que os personagens se questionem muito.
Tudo começa quando Madeleine (Sabine Azèma) procura um lugar para pintar e então conhece uma charmosa região onde vive o charmoso casal Eva (Amira Cesar) e Adam (Sergi López). Eva e Adam? Reparou a sutileza? O fato é que a dupla age como a serpente do paraíso para ela e seu marido William (Daniel Auteuil), que acabou de se aposentar.
Eles se mudam para o campo, a casa do casal mais novo queima, e os hospedam. A troca de casais acontece, mas em nenhum momento se coloca que Madeleine e William deixaram de se amar ou que procuram um combustível novo para sua relação desgastada. Produções mais convencionais usam essa explicação. A originalidade do roteiro é exatamente essa, pinta dentro daquele espírito francês de perguntar: porquoi pas? Ou seja, por que não? Para colocar em xeque sua modernidade, ou caretice. (Ronaldo Victoria)

domingo, 20 de dezembro de 2009

Uma Juventude como Nenhuma Outra

Smadar Sayar e Neama Shandar: garotas como as outras
Foto: Google Image
O título nacional deste belo drama israelense parece indicar que naquele país sempre atemorizado pela guerra, ser jovem é uma experiência única. Afinal, foi Israel, ainda nos anos 60, uma espécie de pioneiro em convocar as mulheres para o serviço militar, por motivos óbvios. Assim, o roteiro do filme fala de algo comum no lugar: duas garotas de 18 anos convocadas para patrulhar as ruas de Jerusalém.
O que Smadar (Smadar Sayar) e Mirit (Neama Shandar) precisam fazer é muito simples, pela lógica local, claro: pedir documentos para palestinos considerados suspeitos a fim de prevenir futuros ataques terroristas. Mas ao contar essa história, as diretoras e roteiristas Vardit Bilu e Dália Hager, tomam um caminho novo. Elas mostram que, não importa a situação em que vivam, garotas de 18 anos são... garotas de 18 anos.
Assim, as duas fazem corpo mole no serviço, passam o tempo olhando vitrines, fazem fofocas, trocam confidências. Quase viram inimigas quando Mirit curte uma paixão platônica por um bonitão mais velho e Smadar vai atrás dele. O que se esperava é um drama pesado, com mortes e atentados. Por isso vem a surpresa com o resultado. (Ronaldo Victoria)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Simplesmente Feliz

Sally Hawkins na pele de Polly: tire o seu sorriso do caminho
Foto: AllMovie Photo
Gente depressiva e mal-humorada é chata, não? Agora pense no contrário: alguém sempre de bem com a vida, um sorriso eterno nos lábios, que nunca se abala por nada. Duro de aturar, não? Pois é exatamente isso que acontece com a personagem principal desse filme dirigido pelo inglês Mike Leigh.
Quem conhece as obras de Leigh, como Segredos e Mentiras, a mais famosa e que foi candidata ao Oscar, sabe que ele tem o talento de mostrar a vida da população de classe média baixa de sua amada Londres. Assim é Poppy (Sally Hawkins), professora de ensino infantil que parece não ter saído da infância.
A vida para ela é uma eterna festa. A ponto de ir num lugar e quando volta, ao ver que sua bicicleta foi roubada, nem se abala. Poppy se diverte, seja na balada com as amigas ou nas aulas de flamenco. Até que encontra seu oposto em Scott (Eddie Marsan), o instrutor de auto-escola para quem a vida é sempre uma tragédia. A originalidade é o grande trunfo dessa comédia romântica. (Ronaldo Victoria)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Suíte Havana

Francisquito, o menino cubano, e seus sonhos
Foto: Google Image

Com certeza esse será um documentário diferente de todos a que você já assistiu. Suíte Havana, dirigido por Fernando Péres, não tem palavras. Ou melhor, as palavras são muito poucas, entram só de vez em quando, como a voz de uma professora que "toma" a tabuada na sala de aula, as músicas de um salão de baile, os hinos que as crianças cantam ou a tagarelice de um palhaço irritante.
O diretor escolheu acompanhar a vida de várias pessoas sem explicar muito, ou quase nada. Há Francisquito, o menino com síndrome de Down, seu pai e seus avós. Também aparecem Ivan, que vai levar para o conserto um sapato de salto alto que a gente nem desconfia de quem é. O sapateiro, por sua vez, é pé-de-valsa no salão. Outro bailarino é Ernesto, que precisa conciliar as apresentações do Balé Nacional de Cuba com o trabalho como pedreiro.
A figura mais triste, porém, é Amanda, a velhinha aposentada que vende amendoim pelas ruas. No final os letreiros contam os sonhos dos personagens reais. A diferença é que Amanda "já desistiu de sonhar". Isso é o que se chama de criticar o regime comunista de forma inteligente e sutil, sem precisar de discursos. (Ronaldo Victoria)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Coração Vagabundo

Caetano Veloso durante passeio por Tóquio
Foto: Google Image

O documentário dirigido pelo jovem cineasta Fernando Grostein Andrade (meio-irmão de Luciano Huck) surgiu como uma encomenda de Paula Lavigne, ex-mulher e para sempre empresária de Caetano Veloso, de documentar os bastidores da turnê do músico por Brasil, Estados Unidos e Japão, durante o lançamento do CD A Foreign Sound, em que gravou apenas músicas americanas.
Terminado o trabalho, ficaram 60 horas de material gravado, resumidos em apenas 60 minutos que foram para o cinema e agora o DVD. Por ter sido um material encomendado, não há como cobrar que o conteúdo seja questionador a Caetano, dono de um ego talvez ainda maior que seu talento.
Parece haver dois Caetanos, o "mala-sem-alça" que se mete a dar palpite em tudo, e o compositor brilhante. O filme mostra o artista em sua plenitude, mas também retrata alguns instantâneos bacanas, como a reverência dele a uma fã no Japão e a resposta a Hermeto Paschoal, que o criticou quando ele disse que e a música americana era a melhor do mundo. Interessante também é uma cena particular com Paula, sempre controladora, que dá a entender por que o casamento. E fãs famosos como Pedro Almodóvar, Gisele Bündchen, David Byrne e Regina Casé contribuem com a tietagem. O DVD duplo traz o show gravado no Baretto, em São Paulo. (Ronaldo Victoria)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ninho Vazio

Oscar Martinez e Cecilia Roth: cinquentões em crise
Foto: Google Image

O título do drama argentino dirigido por Daniel Burman (El Nido Vacio, Argentina, 2008) é até usado pela psicologia para definir a síndrome que ataca os casais de meia-idade quando os filhos alçam voo. Diretor jovem (tem 36 anos) e considerado um dos principais do país vizinho (ao lado de Pablo Trapero e Lucrécia Martel), Burman tem estilo e cria obras que fluem naturalmente, sem mostrar grandes dramas mas retratando o cotidiano.
Ele prefere retratar histórias ligadas à classe média argentina, especialmente jovens da etnia judaica, a qual pertence. Desta vez ele muda um pouco o foco, retratando cinquentões em crise. O casal formado pelo escritor Leonardo (Oscar Martinez, ótimo) e a dona-de-casa Martha (Cecília Roth, estrela de Almodóvar em Tudo Sobre Minha Mãe) enfrenta a situação quando os três filhos saem de casa ao mesmo tempo, a menina mais velha para se casar com um judeu e se mudar para Israel.
Enquanto ela começa a questionar o poder de sedução que ainda lhe resta e flerta com os amigos do marido, ele encara a idade do lobo e um caso rápido com sua bela dentista, Julia (Inés Efron). Agradável mas sem surpresas. (Ronaldo Victoria)

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Do Outro Lado

Norgul Yesilçay e Patricya Ziolkowska: amor contra o preconceito
Foto: Google Image

Belíssimo drama dirigido por Fatih Akin (Auf der anderen Seite, Alemanha, 2007), cineasta nascido na Alemanha mas de raízes turcas. O roteiro fala, com classe e enorme sensibilidade, dessa sensação de estar dividido entre duas culturas diferentes, o "outro lado". E todo mundo sabe (ou deveria) como alguns setores alemães tratam os turcos. A história é circular, fala de personagens cujas trajetórias se cruzam em algum momento.
Yeter (Nursel Köse) é uma prostituta que recebe de um cliente, Ali (Tuncel Kurtiz), a proposta de morar com ele, mas morre durante uma briga. O filho dele, Nejat (Baki Davrak), tenta procurar a filha dela e vai a Istambul. Mas a garota, Ayten (Norgul Uesilçay), vem para a Alemanha, onde conhece Lotte (Patricya Ziolkowska). As duas se apaixonam, apesar da oposição de Susanne (a diva do cinema alemão Hanna Schygulla).
Porém, Ayten é deportada e a namorada vai atrás dela, conhecendo a tragédia. É um enredo brilhante, que fala de questões tão importantes como solidariedade e compaixão, essenciais nesse mundo louco de hoje. Dê-se ao luxo de descobrir. (Ronaldo Victoria)

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Profissão Surfista

Matthew McConaughey: veterano das ondas
Foto: Google Image

Este filme jamais ganharia o Oscar de melhor figurino. Afinal, seu astro, Matthew McConaughey, passa o tempo todo usando um bermudão branco com listras pretas. Pensando bem, a comédia dirigida pelo obscuro S.R. Bindler (Surfer, Dude, EUA, 2008) teria poucas chances em qualquer categoria. É o que se chama de produção destinado a um público específico.
Porém, resta saber se esse chamado público-alvo gostará da forma como é retratado. Pode bem ser que não. Steve Addington, por exemplo, o personagem de McConaughey, é um surfista que pratica o esporte por puro prazer. Veterano das ondas, ele não se preocupa com nada a não ser com praia, uma música relax, e um baseado para relaxar mais ainda.
Um dia, é convidado para uma experiência diferente pelo executivo Eddie Zarno (Jeffrey Nordling), que vê no surfe uma possibilidade de ganhar muito dinheiro. Ele cederá a imagem para ao mesmo tempo participar de um reality show e ceder sua imagem para um videogame do tipo Guitar Hero, em que um "avatar" seu vai encarar ondas virtuais. Será que ele vai topar? O resultado é ralo, cotação no máximo duas pranchas e meia. (Ronaldo Victoria)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Segunda Chance para o Amor

Selma Blair e Patrick Wilson: charmosos e complicados
Foto: Google Image
O filme demora um pouco para engrenar, pois tem um ritmo mais lento que pode desagradar os mais apressadinhos. E tem horas que dá vontade de “brigar” com alguns personagens, a maioria teimosa e que não abre mão de certas manias. Mas são defeitos menores do romance (Purple Violets, EUA, 2007), dirigido por Edward Burns, também destaque no elenco.
Como ator, Burns poderia ter sido galã, se não tivesse uma voz irritante. Já na qualidade de diretor, é bem inspirado e evita os lugares-comuns. No filme ele vive Michael, ex-alcoólatra que tenta se reaproximar de Kate (Debra Messing, de Will & Grace), mas ela é uma das cabeças-duras da trama.
O casal mais atraente é Patti (Selma Blair) e Brian (Patrick Wilson), melhores amigos da outra dupla. Eles namoraram no passado, mas romperam. Os dois são escritores, ela não consegue sucesso, o que ele consegue, mas procura prestígio. Simpático e envolvente. (Ronaldo Victoria)

sábado, 12 de dezembro de 2009

Che: A Guerrilha

Benício Del Toro: guerrilheiro que virou mito
Foto: Google Image

A primeira parte do épico dirigido por Steven Soderbergh mostrava o nascimento do mito Che Guevara. Essa retrata a sua decisão de se embrenhar nas matas da Bolívia para fazer a luta armada, o que lhe causou a morte. Nos primeiros tempos, o médico argentino Ernesto Guevara conhecia o cubano Fidel Castro e seu irmão Raul e juntos lideraram a revolução cubana, que completou cinco décadas no primeiro dia deste ano.
Foi para marcar essa data que o ator portorriquenho Benício Del Toro convenceu o amigo Soderbergh a contar a história do homem que vive até hoje como ícone, idealizado como guerrilheiro idealista pela esquerda e execrado como sanguinário pela direita. O amplo trabalho, com mais de quatro horas, foi dividido em dois filmes.
Este traz um Guevara menos idealizado e bem mais humano, recrutando os guerrilheiros e abatido pela asma que o impedia de atuar como desejava. Quase tudo se passa na selva boliviana, numa época em que os militares comandavam e o presidente René Barrientos (o português Joaquim de Almeida) massacrava a oposição. O final é bastante triste. O ritmo lento e a emoção contida (medo de ser patrulhado?) podem incomodar parte do público. (Ronaldo Victoria)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Michael Jackson: História sem Máscaras

Documentário aborda os últimos dias do ídolo
Foto: Google Image

Alguém ainda aguenta ouvir falar de Michael Jackson, seis meses após a sua morte trágica, que serão completados exatamente no dia de Natal? Ô se aguenta! Os fãs do autoaclamado Rei do Pop não param de consumir material sobre o rei morto, que vai demorar para ser posto. Na internet existem fóruns de fãs de MJ que trocam impressões a respeito de tudo que é lançado sobre ele. O curioso é que eles rejeitam todo produto que procure mostrar o lado bizarro do astro, que eles se recusam em enxergar.
Por isso, esse documentário dirigido por Sonia Anderson para a televisão inglesa acabou recebendo o aval dos admiradores. Isso apesar de sua curta duração (apenas 49 minutos) e de já ter sido exibido pelo canal a cabo GNT com o título A Trajetória de um Ídolo.
Isso porque o roteiro evita aquele tom sensacionalista (cá entre nós, o comportamento dele era um prato cheio, que os fãs extremados não leiam). Fica mais na parte da carreira, abordando a frustração em Londres com o show que nunca aconteceu. Fatos estranhos ficaram de fora, apesar do título. Chapa-branca? Pode ser, mas sério. (Ronaldo Victoria)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Obsessiva

Beyoncé Knowles e Idris Elba: casal ameaçado
Foto: Google Image

Ainda bem que a gente ainda tem memória. Só assim se pode colocar no devido lugar produções como esse suspense de segunda classe. É que o filme dirigido por Steve Shill nada mais é que uma cópia deslavada (e descarada) de Atração Fatal, realizado nos anos 80 por Adrian Lyne, e que foi fenômeno de público.
Senão vejamos. A história fala sobre Derek (Idris Elba), executivo casado com a bela Sharon (Beyoncé Knowles, que também tem classe como atriz), que trocou a carreira por ele e pela maternidade. Um dia aparece no escritório Lisa (Ali Larter, a Niki de Heroes). A moça se apaixona por ele, que evita o envolvimento. Com o fora, a loira fatal fica cada vez mais pirada e o embate final entre as duas mulheres envolve socos e tapas.
Quem assistiu o "original" reconhece o enredo de cara. A única diferença é que naquela época, o marido interpretado por Michael Douglas realmente transava com a megera vivida por Glenn Close. Hoje, pela nova moralidade hollywoodiana, nem isso ele poderia fazer. Melhor fugir dessa história de segunda mão. (Ronaldo Victoria)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tempos que Mudam

Gerard Depardieu busca um amor do passado
Foto: Google Image

O título do drama francês (o original em francês é o mesmo, Les Temps qui Changent, 2004) dirigido por André Techinè tem duas conotações. Em primeiro lugar, fala sobre a mudança em geral, um mundo que se moderniza, para melhor ou para pior, e onde as relações se baseiam por novos códigos. No caso, destaca seus personagens, franceses que vivem no norte da África, região onde antes eles estendim seus domínios colonialistas e hoje precisam se adaptar a novos tempos.
A cidade onde se desenrola a história é Tânger, no Marrocos, para onde vai o engenheiro Antoine (Gerard Depardieu) vistoriar uma grande obra. Lá vive há um bom tempo Cécile (Catherine Deneuve), seu grande amor, com quem rompeu por uma bobagem e a quem não vê há mais de 30 anos.
As primeiras cenas mostram Antoine sendo soterrado no canteiro de obras. Será que ele morreu e tudo o mais é um flashback. Depois conhecemos Cecile, casada com um médico mais jovem e que tem um filho que tenta se adaptar ao país e ao fato de ser bissexual. Vale pela dupla central. La Deneuve, aos 66 anos, continua bela. Depardieu, aos 61, ficou gordo e deixou de ser galã, mas continua ótimo ator. (Ronaldo Victoria)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um Natal Especial

Elenco reunido em cena: festa em família
Foto: Google Image
Embora já tenha algum tempo (a produção é de 2007), voltou às locadoras o DVD dessa comédia simpática, embora não muito marcante (This Christmas, EUA), dirigida por Preston Westmore II. E deixa no ar uma pergunta: filmes com ambientação no Natal, uma data tão marcante, só funcionam bem durante este período? Parece que sim, pelo menos ajuda a entrar no clima.
A festa natalina é de uma grande família negra, com a matriarca Ma’Dere (Loretta Devine), abandonada pelo marido e agora com um namorado, Joe (Delroy Lindo). Os filhos têm comportamentos diferentes e daí que vem a graça. Há o primogênito que sumiu de casa, Quentin (Idris Elba); a irmã chata e controladora Lisa (Regina King); e o caçulinha mimado Baby (o cantor Chris Brown, antes de bater na Rihanna).
É uma história que flui leve e sem compromisso, e que provoca identificação em qualquer família. O final, em que o elenco se despe dos personagens e dança junto um balanço de Marvin Gaye, é empolgante. (Ronaldo Victoria)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Atividade Paranormal

Filme é ambientado numa casa e tem imagem "lavada"
Foto: AllMovie Photo

É uma notícia boa quando algum filme consegue inverter a equação que aponta para gastos cada vez mais constantes em Hollywood. A primeira coisa que chama atenção no filme dirigido pelo isralense e estreante Oren Peli é o custo: 15 mil dólares, sendo que 4 mil foram investidos por um cara que entende alguma coisa de cinema: Steven Spielberg, que aconselhou o diretor a melhorar os efeitos especiais da última cena.
Para comparar, o disaster movie 2012 foi orçado em 200 milhões de dólares. E os dois ocupam lado a lado as salas do shopping. O que o filme tem de especial? Criatividade, claro. Talvez Peli tenha se inspirado no já clássico A Bruxa de Blair, mas ele tem marca pessoal. A história fala sobre um casal, Katie (Katie Featherston) e Micah (Micah Sloat), que mora em San Diego. Detalhes: a casa é do diretor e os atores são seus amigos.
O problema é que Kate acha que vem sendo perseguida por um espírito desde os oito anos. Então o marido monta um aparato técnico para filmar essa ação. Há furos no roteiro —— eles não têm família ou amigos para chamar? num caso desses, quem dormiria com a porta do quarto aberta? ——, mas o prazer de sentir medo é muito bom. Vale a pena descobrir. (Ronaldo Victoria)

domingo, 6 de dezembro de 2009

A Batalha de Seattle

Charlize Theron perdida no meio da multidão
Foto: Google Image
É fácil quando a gente vê, em telejornais, matérias sobre manifestações contra grandes entidades capitalistas, rotular os caras que protestam de “malucos”. Pensando bem, é direito de manifestação e se todo mundo se entregar nos braços do capital, a vida ficaria mais chata e perigosa. Ou não? Por isso um filme como esse, que mostra o lado humano dos manifestantes, e ousa se colocar contra os poderosos, resulta tão legal.
Tudo acontece em 1999, quando a OMC (Organização Mundial do Comércio) ou WTO (World Trade Organization) na cidade do título. O roteiro mostra os manifestantes Jay (Martin Henderson), Lou (Michelle Rodriguez) e Django (Andre Benjamin) e seus audaciosos esquemas de chamar atenção.
Porém, a polícia reage com truculência desnecessária, o que fica claro na reação do soldado Dale (Woody Harrelson), cuja mulher, Ella (Charlize Teron), se fere durante o protesto. Também é mostrada a posição medrosa do preito, Jim Tobin (Ray Liotta). O bom elenco garante o interesse. O diretor, Stuart Townsend, também é ator e marido de Charlize. (Ronaldo Victoria)

sábado, 5 de dezembro de 2009

Veronika Decide Morrer

Sarah Michelle Gellar encarna heroína de Paulo Coelho
Foto: Google Image
Você nunca se perguntou por que os livros de Paulo Coelho, apesar do enorme sucesso que conseguem em todo o mundo, demoraram tanto a chegar às telas de cinema? Este drama, dirigido pela inglesa Emily Young, o primeiro de grande expressão, talvez ajude a explicar. Não que o resultado seja ruim, mas não se tornou marcante.
O roteiro acabou ficando chocho, com alguma ação no início, um final interessante, mas um meio de história morno, em que pouca coisa interessante acontece. Deve ser por que as histórias de Coelho, goste-se ou não delas, falam mais de sentimentos interiores. A adaptação do livro modernizou a história de Veronika (Sarah Michelle Gellar, para alguns a eterna Buffy), agora uma garota moderna de Nova York.
Depois de tentar o suicídio, como anuncia o título original, ela vai parar numa clínica dirigida pelo psiquiatra Blake (David Thewlis), que entra no lugar do mago original. E conhece um rapaz misterioso, Edward (Jonathan Tucker), que não fala. Tem a mensagem no desfecho, mas demora muito até se chegar a ela. (Ronaldo Victoria)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Vida Secreta das Abelhas

Dakota Fanning e Queen Latifah: em busca do passado
Foto: AllMovie Photo

Quando um filme como esse —— dirigido por uma mulher (Gina Prince-Bythewood), baseado em livro dela e com elenco dominado por atrizes —— chega ao mercado, logo ganha um rótulo: é feminino, feito por e para mulheres. Machismo bobo. O drama é emocionante por falar de culpa, redenção, repressão, e outros sentimentos fortes.
Como se passa na década de 60 nos Estados Unidos, o racismo também dá as caras. É lá que vive Lily (Dakota Fanning), que acredita ter matado acidentalmente a mãe. Ao menos é isso que T. Ray (Paul Bettany), o amargurado pai da garota, abandonado pela esposa, a faz acreditar. Um dia Lily se cansa de ver a empregada negra Rosaleen (Jennifer Hudson), ser vítima de preconceito e foge de casa.
Vai parar numa pequena cidade e se encanta numa loja com o mel chamado Nossa Senhora Negra. Assim descobre a casa das irmãs apicultoras Boatwritht, todas com nomes de meses do ano. August (Queen Latifah) é uma espécie de abelha rainha, May (Sophie Okonedo) tem problemas mentais por causa da morte de outra irmã, e June (Alicia Keys) é azeda como fel. Pode ser coincidência demais o fato de a menina ir justamente para a casa que guarda o passado de sua mãe, mas é uma história que comove. (Ronaldo Victoria)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Amantes

Gwyneth Paltrow e Joaquin Phoenix: desencontros do amor
Foto: Google Image

Belo e triste filme de amor (Two Lovers, direção de James Gray), traz uma interpretação sensacional de Joaquin Phoenix. Aliás, parece ter sido sua última atuação. Há alguns meses o moço, com uma barba enorme, disse que deixaria a carreira de ator para ser rapper. Por isso, seu nome já está crescendo na bolsa de apostas do Oscar.
E merece. Phoenix vive Leonard, jovem perdido que na primeira cena do filme pula de uma ponte, numa inexplicável tentativa de suicídio. O rapaz vive com os pais judeus (Moni Mossonov e Isabella Rosselini), trabalha na empresa da família e não sabe o que fazer da vida. É apresentado a doce Sandra (Vinessa Shawn), filha de um casal amigo, e que se apaixona por ele.
Mas o roteiro fala de algo que nunca entenderemos: por que a gente despreza quem nos ama e é louco por quem nos ignora? A tentação surge para ele na forma de Michelle (Gwyneth Paltrow), a vizinha doidinha, drogada e apaixonada por um homem casado. Um dia ela dá esperança para Leonard, que larga tudo para viajar com ela. Será que ela irá aparecer? O clima lembra Noites Brancas, de Dostoiewski, e não poupa a melancolia. Pode afastar uma parte do público, mas não se pode negar o acerto total. (Ronaldo Victoria)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Festa da Menina Morta

Daniel Oliveira vive personagem polêmico
Foto: Google Image

Atores de enorme talento, Selton Mello e Matheus Nachtergale (que dividiram o estrelato no delicioso Auto da Compadecida), estrearam este ano como cineastas. E os dois amigos seguiram o mesmo estilo, com obras difíceis, bastante pessoais e até incômodas para uma parte do público. Se Feliz Natal, de Selton, é urbano, o drama dirigido por Matheus é ambientado no coração do Brasil, numa comunidade ribeirinha do Amazonas.
O povoado vive de explorar a festa do título. A menina morta é Cecília, e o seu vestidinho rasgado é usado como relíquia em altar. Quem vive ligado a ela é Santinho (Daniel Oliveira), que faria milagres não muito explicados. O roteiro também mostra como a festa que seria de religiosidade autêntica vira um evento também comercial, com patrocínio de cerveja e shows bastante bregas.
Santinho é personagem polêmico. Gay afetadíssimo, ele tem relações incestuosas com o pai (Jackson Antunes), que o explora. A cena de sexo entre os dois soa exagerada. Todo esse tom exagerado, aliás, parece uma escolha consciente do autor em seu primeiro filme. A impressão que dá é que Matheus fez uma obra sem concessão, do jeito que queria. Se for rejeitado, é um risco que correu. (Ronaldo Victoria)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Onda

Jürgen Vogel à frente de seus alunos: experiência polêmica
Foto: Google Image

O título diz pouca coisa, mas este é um filme inteligente e provocador. Daqueles que provocam algo que não estamos mais tão acostumados: reflexão. O drama dirigido por Dennis Gensel (Die Welle, Alemanha, 2008) faz parte da nova safra de bon filmes europeus do momento. O ponto de partida é uma experiência de um professor, Rainer Wenger (Jürgen Vogel), que dá aulas para o ensino médio.
Considerado descolado pela moçada —— usa roupas modernas e camiseta dos Ramones ——, um dia ele é convidado a dar uma aula sobre autocracia, ou seja, ditadura. Para estimular o interesse dos estudantes, diz que em regimes desse tipo há sempre uma pessoa detentora da verdade e do poder, e que passa a controlar os outros.
Logo ele se vê na posição de líder, escolhe o uniforme do grupo (todas andam de camisa branca), fazem um gesto que os identifica e não aceitam posições contrárias. Não demora para o professor perceber que a experiência foi longe demais e que os alunos se entusiasmaram muito. E isso num país como a Alemanha, que tem Hitler e o nazismo em seu passado, é ainda mais forte. O roteiro foi baseado num fato real, a experiência The Third Wave, feita pelo educador americano Ron Jones em 1967 numa universidade da Califórnia. (Ronaldo Victoria)